terça-feira, 24 de agosto de 2010

Redoma de vidro

"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros." - Caio Fernando Abreu

Seco.Vazio. Ausente. Silêncio. Partidas. Vozes. Alucinações. Pensamentos. Palavras.

Isto foi o que sobrou depois que percebi que tudo não passava de uma ilusão. Tudo tinha seu tempo. As horas eram compridas e a leveza do ar parecia está dentro de mim. Escolho entre tantas palavras uma forma de decifrar o que acontece durante as noites, quando as luzes se apagam. Sufoco-me com o travesseiro, contado os segundos que deixam esse ar (que percorre por todo mundo) ficar preso dentro de mim, para que eu sinta como é estar livre. Mas isso não acontece. Acabo ficando sem fôlego e me engano novamente. Acho que quando Caio Fernando Abreu escreveu “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” decifrou exatamente o que sentimos quando nos ausentamos do mundo, das pessoas e de nossa personalidade. De quando temos que nos ausentar da palavra “amor” para recompor nossos sentimos e ter forças novamente para continuar vagando nessa palavra. SsSsSsSsSsSsSsSs... Ouço o som do vento que entra pela janela e, sem que eu permita, se alojar no vazio do quarto para me acompanhar. Trocamos imaginações para que o sorriso passageiro apareça. Um breve sentimento de descanso me envolve antes de ir embora. A magia do meu inconsciente. E quando passa, fico pelo chão desse quarto sobre o silêncio, ausência, ficção, medo e uma ‘luz negra’. Essa luz negra que me mostra miragens de uma solidão. A luz negra da canção de Nara Leão que me acolhe na melodia. Pareço estar sonhado.

Sinto o peso do meu corpo esticado no chão gelado desse quarto. Solidão. Não queria expressar essa palavra enquanto desenvolvo alucinações. Ela está presente em cada indivíduo sonhador. Procuro me ater nas palavras de solidão deixadas pelos tristes humanos que caminharam sobre a terra. Nietzshe sentia um grande amor dentro de si quando se alojava e mantinha sua mente em contato com o silêncio. Ele particularmente não tinha vida, era um filósofo amargurado que escrevia para se recompor de suas dores existenciais. Esse talvez seja o medo das pessoas que procuram a palavra “F”. Parece que as lágrimas escorrem de um amor platônico e caem lentamente sobre as páginas dos livros de poesias banais. A respiração intensa deixa os membros superiores exausto de produzirem palavras marginalizadas. Agora Fyodor Dostoyevskiy interage com esses olhos de insônia. Grande parte de suas imaginações eram referente aos outros que encontravam abrigo num isolamento. “As crianças são assustadas e infelizes, mas conseguem caminhar sem medo”. O tempo está se alongando-esgotando-parando. Logo terei que me ausentar das melodias, das letras, e me abrigar em outros ambientes repletos de ilusões. Quero me embriagar de álcool para me misturar aos demais, sentir a fumaça e estabelecer o contato com as bocas de pecados proibidos. Te procurar no caminho que me deixasses sozinho. Viajando nas poesias banais, nas lágrimas e dores profundas e sentir-me: Seco.Vazio. Ausente. Silêncio. Partidas. Vozes. Alucinações. Pensamentos. Palavras. E encontrar minha redoma de vidro.

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