domingo, 29 de maio de 2011

Chuva, convite e cinzas de um carnaval

Perdi o feriado de carnaval ao seu lado por um quarto vazio repleto de música lenta, livros abertos e um silêncio que me fazia pensar em você. Sabia que isso iria ser um pouco entediante, mas foi assim que decidir passar o feriado: longe da sua linda voz, e me abrigar no silêncio das palavras. Talvez eu deva ter errado em não ter aceitado o mesmo convite feito há dois anos, quando nos conhecemos, lembra?

Era final de fevereiro e as fortes chuvas castigavam as ruas de Belém. Esse era o momento em que à cidade parava e o estresse aumentava. Já era quase oito da noite e me senti ilhado na lanchonete de uma panificadora, onde a cada segundo que passava minha paciência sumia. Se ao menos eu tivesse um guarda-chuva.

– Idiota – eu disse. – Nem pra isso sirvo. Dava pra ter comprado um guarda-chuva. Sou um burro mesmo.

Logo atrás, ouvir sua risada leve. Você estava rindo do que eu havia dito. Acho que minha expressão agradou aquele entediante momento.

– Desculpe.

– Que nada, achei engraçado o jeito que você falou.

– É que eu não estou a fim de ficar na mesa de uma lanchonete a noite toda.

Os próximos três minutos que se seguiram, foi o tempo em que você se levantou, foi até o caixa, pagou a conta e caminhou até a porta de saída, parou, olhou para mim e disse:

– Tenho um guarda-chuva, ele é grande e da para duas pessoas. Posso lhe dar uma carona, se quiser.

A chuva já estava fraca e caminhávamos abraçados falando sobre nossas personalidades.

– Fico aqui nessa parada – eu disse. – Obrigado pela gentileza de ter me dado uma carona. Foi a melhor e mais divertida carona que já tive.

– De nada, o prazer foi meu.

– Então tchau.

– Tchau. – Beijo no rosto e um leve abraço.

Fiquei observando você se distanciando e durante cinco segundos me perguntei: “dava pra te pego o número dela ou pelo menos o e-mail, droga”. Era sexta-feira e o começo de um longo feriado, não estava muito a fim de ficar em casa sem uma companhia.

– Ei, Espere! – gritei.

Foi então que o convite veio e descobrir o outro lado do feriado de carnaval. Quatro dias de intensos abraços, carinhos, beijos e a diversão que um feriado de carnaval pode proporcionar. Esse, porém, será diferente. Já que não estamos juntos há dois meses. Nosso relacionamento não aguentou as fortes chuvas desse tempo, e o feriado de carnaval passou a ser novamente para mim o momento de silêncio, onde eu pudesse relembrar nossos primeiros dias, já que recebi o seu telefonema junto com o convite. E como diz a canção “Marcha da 4a Feira de Cinzas” de Vinícius de Moraes: “Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções. Ninguém passa mais brincando feliz, e nos corações saudades e cinzas foi o que restou”.

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