terça-feira, 14 de junho de 2011

O olhar por dentro do sentimento

O único objetivo era saber qual seria o impulso que levaria Ronaldo até aos bares das noites calorosas do mês de junho. Mas isso seria difícil, já que agimos por impulso sem perceber. Depois que o impulso veio, achou melhor não ficar em casa onde sua angústia aumentava. Pegou a chave do carro e atravessou a porta da rua. O impulso estava dentro dele. A rua que cortava caminho ao centro da cidade estava congestionada. Pessoas fantasiadas de caipiras atravessavam sem medo entre os carros, a fogueira parecia brilhar bem mais que as luzes dos postes. Era noite de São João e Ronaldo não estava nem um pouco a fim de bancar o legal. Antes de decidir voltar para casa, seus olhos bateram com a cena do beijo. O seu beijo roubado.

– Um soco no estômago! Isso foi o que sentir ao ver aquela cena. Nunca pensei que as mulheres pagavam na mesma moeda, ou até pior. – Talvez se Ronaldo tivesse ficado em casa naquela noite, seu olhar seguiria outra direção e ouviria o tic-tac do relógio silenciando sua angústia.

O copo estava cheio, quase derramando. Mesmo assim Ronaldo continuou pondo mais uísque sem perceber o que estava acontecendo. Seus pensamentos latejavam as lembranças daquela noite, quando viu Mayara nos braços de outro. Na boca de outro. No momento em que a viu, a cegueira tomou conta de seus olhos. Agora Ronaldo tem uma visão oculta para perceber os fatos. Sua concentração se perde junto aos seus pensamentos. O uísque derramou na mesa manchando a toalha branca.

– Merda.

Ele realmente estava precisando do auxílio de um amigo. Ronaldo não sabia se ficava entediado em casa ou se iria até o boteco mais próximo encher a cara. Se fosse para o boteco, afundaria mais sua dor. Resolveu ir para casa de sua mãe onde sempre se esquecia do mundo. Antes de partir, sentou em frente ao computador e enviou um email para Mayara.

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De: ronaldoabreu@email.com

Para: mayara.lima@email.com

Assunto: (sem assunto)

Se meu corpo ficar tanto tempo dentro desse cubo, minhas imaginações evoluem e percebo que já não quero manter contato com o resto do mundo. Quando percebo que estou sofrendo, esqueço essas imaginações e me levo em direção aos outros corpos espalhado pelo mundo. Tenho sentimentos, palavras, olhares. Medo. Tenho necessidade de amar o que não me pertence. De sofre pelos meus olhares. De chorar ao ver o mar, as flores. De sentir o vento. De vê a luz do dia apagando quando tento te esquecer. Tentei não sofre e ocupar meus pensamentos para não pensar em você.

Passei a me reunir em um partido de esquerda, já faz duas semanas. Socialistas que vêem problemas em tudo e não tem medo de gritarem suas vozes (ao contrário de mim que tenho medo de gritar o que está aqui dentro, o seu nome, isso também está dentro de mim). As reuniões são as quartas e sextas, sempre às sete da noite. As pessoas são inteligentes e com um bom acumulo político. Talvez eu me filie ao partido. Acho muito bom fazer discussão política e colocar em prática as atividades para o crescimento da sociedade. Só tenho medo de acabar me frustrando depois. Fico por aqui, um beijo.

Ronaldo queria continuar dormindo e ficar sonhando com as lembranças de sua infância onde ele realmente era feliz e não precisava fingir. Pegou o violão que estava no canto do quarto pedindo para ser tocado. Aquele violão estava velho, mas era o único objeto que lhe remetia à lembrança de seu avô. Caminhou pelo corredor e atravessou a cozinha sentido o cheiro do café que sua rainha estava fazendo, sentia saudade daquele cheiro. Parou na varanda e observou os objetos, estavam todos empilhados no mesmo lugar, lado a lado. Esse filme retrocedeu em seus pensamentos. A velha cadeira ainda estava no mesmo canto, como se tivesse alguém sentado naquele lugar todos esses anos. Sentou e sambou com a viola para recomeçar de novo, bebendo daquele café para lhe trazer o beijo novamente.

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