sábado, 8 de dezembro de 2012

De lá pra cá e a idade do tempo de hoje

Naquela tarde chuvosa tudo estava calmo, menos o céu. O vento trazia um sono preguiçoso e como de costume, Alberto se embalava na rede e ficava ali até o anoitecer. Seu corpo meio preguiçoso atrofiou-se. Criou esse costume de descansar ao chegar à velhice e não o trocava por nada. Muitos não sabem, mas quando atingimos a idade dos 80, nosso corpo pede por descanso. A paciência pelas coisas, o entendimento em aceitar as novidades, a readaptação com a contemporaneidade, a juventude precoce em se adaptar com o meio, etc. Alberto tinha 76, e já estava treinando para quando completasse 80. Puxava um ronco baixinho que pouco se ouvia por causa do barulho da chuva, parecia que aquelas gotas caiam como pedrinhas na tela.  Raimunda, sua esposa, o olhava descansar assim como se vê os ponteiros de um relógio girar. Era hora de preparar o café. Se levantou da cadeira com uma leveza que deixava a velhice morrendo de inveja. Aceitava tudo que era novo, se sentia bem e ficava feliz em descobrir um novo olhar para as coisas do mundo. Reconstruía seu modo de vida com os passos da realidade atual. Tinha chegado aos 70 com uma energia de 30. Gostava de estar sempre na atividade, cozinhava, bordava, corria pela manhã, escrevia, cuidava de suas plantas e ria com as piadas do facebook. Sempre mantinha mente e corpo trabalhando, assim continuava com sua autoestima. Seguiu até a cozinha em busca de expectativa para lhe manter ativa e tentar reanimar Alberto. Deu um leve sorriso sarcástico e continuou a admirar a vida. 

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